Inteligência Artificial no Ensino Superior: Oportunidade ou Desafio?

AUTOR: Sérgio Correia, scorreia@ipportalegre.pt |

Ferramentas como o ChatGPT estão a transformar o ensino superior, mas a sua integração levanta questões éticas, pedagógicas e sociais que não podem ser ignoradas.

A inteligência artificial (IA) está a revolucionar o modo como o professor ensina, e como o estudante aprende. No ensino superior, as ferramentas de IA sugerem ganhos de produtividade, personalização do ensino e da avaliação, assim como o apoio à investigação. No entanto, estas tecnologias também trazem consigo desafios que implicam uma reflexão por parte das instituições de ensino, pelos docentes e pelos estudantes.

Uma das dificuldades mais debatida e reconhecida reporta-se ao plágio e à perda de autenticidade no processo de avaliação. Com o massivo acesso a plataformas capazes de gerar textos complexos, torna-se difícil garantir que os trabalhos académicos refletem o esforço e o pensamento crítico dos estudantes. Este contexto levanta dúvidas sobre a validade das avaliações tradicionais e exige das instituições, políticas claras sobre o uso responsável da IA a nível institucional, mas também ao nível dos órgãos científicos e pedagógicos, e das coordenações de curso, de modo a refletir as especificidades das várias áreas de formação.

A preparação do corpo docente é ponto crítico neste contexto. Muitos professores ainda se encontram numa fase preliminar de familiarização com as ferramentas de IA, o que limita a sua capacidade de as integrar no processo de ensino-aprendizagem. Por um lado, a falta de formação específica em IA do corpo docente pode levar a um uso ineficaz ou até contraproducente destas tecnologias, o que acaba por comprometer a qualidade do processo. Por outro lado, importa reconhecer que o estudante já recorre a estas ferramentas para estudar, produzir trabalhos ou esclarecer dúvidas. Se o professor não as levar para a sala de aula de forma orientada e consciente, será inevitavelmente o aluno a fazê-lo, muitas vezes sem coordenação, de forma descontrolada e com todas as consequências negativas que daí possam advir. Assim, as instituições devem investir na capacitação contínua dos seus docentes, e em programas de formação continua no domínio da inovação pedagógica, permitindo-lhes tirar partido das vantagens da IA de forma crítica e construtiva.

Além disso, devem ser consideradas preocupações em torno da qualidade da aprendizagem por parte dos estudantes. A dependência excessiva de ferramentas de IA pode reduzir a capacidade critica dos mesmos em resolver problemas de forma autónoma e desenvolver a criatividade. A IA deve ser encarada como um apoio, e NUNCA como um substituto do esforço intelectual e da construção do conhecimento.

A integração da IA no ensino superior é inevitável, mas deve ser introduzida com responsabilidade E ÉTICA. Cabe às instituições e aos seus órgãos colegiais encontrar o equilíbrio entre inovação e princípios pedagógicos, assegurando que a tecnologia serve a educação — e não o contrário. Tal como no passado a introdução e uso da máquina de calcular implicou desafios, ou como o acesso massivo à informação através dos computadores e motores de busca levantou receios, a IA representa mais uma etapa no processo de evolução do ensino. Com uma abordagem crítica, ética e inclusiva, a inteligência artificial pode tornar-se numa poderosa aliada na missão de formar profissionais mais preparados, informados e capazes de enfrentar os desafios da atualidade. Não esqueçamos no entanto, que, no que diz respeito à IA e a sua integração no dia a dia e na sociedade, estamos no limiar da uma adoção generalizada — este é o momento para a IA, como foi a Amazon para o comércio ONLINE, como o Facebook para as redes sociais, ou a Internet e o computador pessoal para a sociedade global.