O Apagão e os Biocombustíveis

AUTOR: Luiz Rodrigues | luiz.rodrigues@ipportalegre.pt

Já muito se falou sobre o célebre “apagão” do passado dia 28 de abril. Não vou, pois, acrescentar decibéis ao enorme ruído que se gerou depois que “se fez luz”, de novo.

Queria, nesta breve nota, referir-me a 3 questões que se me colocaram, certamente também a muitos outros colegas que trabalham na área das energias renováveis, alternativas aos combustíveis fósseis que ainda dominam a nossa economia.

Primeira questão: não andamos nós a “pregar” que uma das enormes vantagens das energias renováveis seria, precisamente, a descentralização da geração e consumo da energia, com concomitante promoção da soberania energética?

Pois, é que nessa fatídica segunda-feira constatamos que, apesar dos inúmeros campos fotovoltaicos instalados um pouco por todo o país, com sacrifícios significativos para a paisagem e biodiversidade em muitas situações, um problema qualquer na rede elétrica algures na Espanha ou no sul de França pode causar um “apagão” de várias horas, por exemplo nas localidades de Brinches ou Amareleja, apesar do seu campo solar próximo, de mais de 4 GW de potência.

Segunda questão: não estaremos a ir longe demais na eletrificação das nossas atividades, economia e sociedade?

Esta questão tornou-se mais evidente em algumas reportagens, feitas em direto, pelo menos, numa das estações de rádio, em que se falava de restaurantes impedidos de funcionar e servir o almoço porque não possuíam senão apenas fogões elétricos. Não há dúvidas de que há muitos setores, como o dos transportes que, em função da sua contribuição para emissões de gases de efeito de estufa, precisam urgentemente de ser eletrificados. Neste aspeto particular, não tem sido defendido, e bem, que apenas um “mix” devidamente balanceado de diversas fontes de energias alternativas poderá substituir sustentavelmente os combustíveis fósseis?

Finalmente, a 3ª questão é a seguinte: até que ponto um desenvolvimento mais amplo e decisivo da indústria dos biocombustíveis em Portugal poderá ajudar a evitar o recurso (recuo?), em escala tão alargada, aos combustíveis fósseis em situações semelhantes às do “apagão”, nomeadamente para alimentar geradores de emergência como em blocos operatórios, fábricas e outros serviços indispensáveis?